CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SOLOS AFECTADOS POR SAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MAUE, ANGÓNIA
DOI:
https://doi.org/10.56346/ijsa.v7i8.302Palavras-chave:
Sodicity, Soil classification, Mapping, Phytoremediation. Agriculture.Resumo
A salinidade e a sodicidade nos solos afetados por sais representam a maior ameaça para a agricultura em escala global. A primeira afeta principalmente a absorção de água pelas plantas, devido à redução do potencial osmótico da solução do solo, enquanto que a segunda afeta a estrutura do solo e, indiretamente, a disponibilidade da água (Bernardo, 1995). A presença de sais no solo pode também provocar problemas de toxicidade para as plantas. O conjunto desses problemas resultará na diminuição da produção agrícola. O presente artigo objectiva avaliar físico-quimicamente os solos afectados por sais na bacia Hidrográfica do Rio Maue em Angónia para orientar os níveis de manejo dos solos e sua conservação, tanto pelos agricultores familiares, quanto ao sector privado, bem como o Governo. Os procedimentos metodológicos utilizados consistiram na revisão bibliográfica, técnicas de geoprocessamento, análises físico-químicas de solos descritas em EMBRAPA (2011 e 2013). As físicas basearam-se em granulométricas (fração argila, silte e areia), argila dispersa em água e condutividade elétrica do extrato de saturação. Por sua vez, as químicas cingiram-se em pH em H2O e KCl; Ca2+, Mg2+, Na+, P, K, Al+e Al3+ + H+) e Carbono Orgânico (C.O) conforme EMBRAPA (2011). Com base nelas foram calculados os valores da soma de bases (SB), capacidade de trocade cátions (CTC), saturação por bases (V), porcentagem de sódio trocável (PST), potencial hidrogeniônico (pH) e índice de saturação por alumínio (m). Por último, de posse dos resultados analíticos (físico-químicos) e das descrições morfológicas dos solos em campo foram caracterizados e classificados os solos da bacia até ao quinto (5º) nível categórico em conformidade com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solo (EMBRAPA, 2013). Os resultados da pesquisa evidenciaram existência de 10 classes de solos numa área de 4596,52ha ao correspondente a 46km2. Os solos estudados foram muito afectados por sodicidade, haja vista que, 76,7% (3522,41ha) dos solos são sódicos, para as classes: 1) VERTISSOLO HIDROMÓRFICO Sódico típico, Ta eutrófico; 2) PLINTOSSOLO ARGILUVICO Ta Eutrofico sódico, gleissolico; 3)ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Ta Eutofico sódico, gleissólico; 5) LATOSSOLO AMARELO Ta Eutrocoeso sódico, textura argilosa; 6) GLEISSOLO HÁPLICO Ta Eutrófico sódico, carbonático; 7) PLANOSSOLO NÁTRICO Ta Eutrocoeso latossólico, sódico litopetroplíntico; 8) CAMBISSOLO FLÚVICO Ta Eutrocoeso durico, sódico lítopetroplíntico; 9) PLANOSSOLO NATRICO Ta Eutrófico típico, petroplintico. Por sua vez, 23,3% (1070,15ha) dos solos são salino-sódicos, com carácter eutrófico e sem alguma restrição química, para as classes: 4) CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Eutrófico léptico, conglomerático; e 10) LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Tb Eutrocoeso, típico textura muito argilosa, respectivamente. Fisicamente, os solos se apresentam com restrições (coesão, adensamento, cimentação de horizontes, endopedregosidade e rochosidade) para as classes de Cambissolos e Planossolos. Apesar disso, se prestam à lavoura, mas quando submetidos a correções e manejos visando à melhoria de sua estrutura e fertilidade. Visando a recuperação dos solos, a utilização de plantas fitorremediadoras quais sejam: erva sal (Atiplex numulária), algaroba (Prospis juliflora); a determinação de condutividade elétrica, a calagem, lavagem e a incorporação da matéria orgânica no solo é efetiva para a sua correção e, por conseguinte, a melhoria de sua fertilidade. Por último, a promoção de educação ambiental é deveras importante para consciencializar o público sobre os riscos que pairam do intenso uso de fertilizantes químicos, tanto para os ecossistemas, bem como para a saúde pública.
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